Meus textos

O que é nascer?

É o trabalho de parto?

É quando nos descobrimos como pessoas?

Ou quando descobrimos a nossa finitude?

Muito antes do trabalho de parto já nascemos.

Nascemos porque nos escolhem um nome (ou mais).

Porque querem saber como vamos ser, ou do que vamos gostar de fazer, e inclusive, já planejam nosso futuro. Nascemos como um símbolo. Filha/o de fulanxs.

Quando, finalmente, nascemos e saímos da barriga de nossas mães, já temos expectativas infinitas sobre nós mesmos, que são esperadas de nossas famílias.

Mas, nesse momento, já percebem que as coisas são diferentes do que imaginavam.

Enfim, vamos crescendo e crescer requer dores. Dores de nos encontrarmos, dores de tentar agradar e não agradar todo mundo, dores de seguir o padrão e perceber que o seu padrão é outro.

Nascer é diferente de viver, que é diferente de existir.

Nós nascemos e existimos, isso é certo. Porém, não sabemos ao certo o momento em que começamos a viver.

Vamos criando e buscando formas de viver, às vezes, percebemos que só estamos existindo. Vem um cutucão e voltamos a busca pela vida.

Todas essas nuances da vida tem um preço, que não tem nada a ver com dinheiro, mas sim o preço da diferença entre somente existir e escolher viver fora do automático.

Para isso é necessário se questionar, sentir e pensar para que as escolhas façam sentido para nós mesmos e que venha carregada com as expectativas do nosso nascimento simbólico, mas que não nos apeguemos a um caminho definitivo e único.



Quado fazemos análise

Quando fazemos análise, muitas vezes nos deparamos com lembranças. O ato de falarmos sobre nossa história, repetir coisas que nos aconteceram pode trazer um certo incômodo ou até mesmo uma angústia, já que naquele momento estamos nos propondo a nos ver de uma outra forma. Ao mesmo tempo, vem uma sensação de “o que vou fazer com isso?”.

O que será que tem nesse incômodo e nessa angústia? O que fica difícil de ver nesse processo? É saber mais quem se é? É perceber o que tem meu naquilo que me acontece? É sentir algo sobre o que aconteceu tão vivamente como se fosse da primeira vez? É perceber que o sentimento lá de trás é o mesmo de hoje?

São perguntas que não temos certeza de como serão respondidas, mas de alguma forma, a análise é algo de só saber depois um pouco mais do que já se sabe. É nesse processo de repetição, do que já se conhece que é possível revelar coisas novas. 

A solidão que nos habita

Final de semana passado fui a um evento de psicanálise sobre solidão na infância e adolescência.

Lá me deparei com tantos questionamentos tão adultos que me surpreendi com o foco na infância e adolescência.

A solidão é um sentimento que constitui os humanos.

Nos sentimos sozinhos em várias etapas de nossas vidas, porém há uma diferenciação entre a forma de elaboração dessa solidão, o que nos guia a tipos diferentes de solidão como uma solidão suportável (já que nascemos e nos constituímos sozinhos) e uma solidão insuportável.

O que nos faz sentirmos sozinhos é a diferença, quando somos bebês achamos que nós e nossa mãe somos a mesma coisa, até que vamos crescendo e percebemos que não é bem assim. A mãe atenderá outras demandas, irá trabalhar, irá se relacionar com o pai, etc.

Portando, uma das vezes que nos sentimos sós é nessa diferenciação.

Ao decorrer da vida, vamos nos identificando novamente e sendo diferente por vários ciclos e aceitar e elaborar tudo isso é o ideal, mas como sabemos que o ideal não existe, lá vamos nós.

O que tem acontecido é quase que uma incapacidade de diferenciação, eu sou você, você sou eu, sem um limite claro e não existe a possibilidade de aceitarmos o diferente, o que traz a dificuldade de elaborar a separação, já que ela não aconteceu. Com isso, vamos desenvolvendo doenças psíquicas.

Isso é facilitado com a tecnologia, já que com youtube, netflix, jogos on-line ninguém se sente sozinho, apesar de estar sozinho, ou seja, utilizamos defesas para essa angústia primária.

Tendo isso em vista, nos deparamos com relacionamentos familiares muito distantes, pois por várias gerações a solidão não foi elaborada, somada com os traumas que vamos vivendo e a bola de neve está pronta e bem grande, sufocando as novas gerações que chegaram e estão chegando. O que faz com que seja insuportável estar sozinho, porque há uma sensação de que ser eu por eu mesmo é impossível.

A função dos nossos relacionamentos e contato com pessoas é para absorvermos o que essa relação tem de bom, para que isso nos constitua e possamos nos desenvolver (está aqui uma grande explicação do porquê o ambiente familiar nos primeiros anos de vida é de extrema importância e influencia nas relações da adolescência e idade adulta).

É importante nos perguntarmos como nos constituímos como pessoas?

Porque muitas vezes não conseguimos ficar sem fazer nada e precisamos estar com o nosso celular na mão?

O que será que acontece se pararmos para pensar em nós?

Sendo assim, precisamos de continentes, que possam nos ajudar a elaborar nossas angústias, medos, relações, traumas para que essas situações e sentimentos sejam vividos novamente e reconstruídos, como forma de absorver o que há de bom nisso e seja possível nos reconstituirmos e aceitarmos a solidão que nos habita.

Referências : Palestras das Psicólogas Monica Santalolla, Marta Úrsula Lambrecht e Maria Cecília Pereira da Silva.






Não dá para voltar de onde saímos

Estudando com uma amiga e um amigo, após lermos textos difíceis e cansados de pensar, minha amiga se pergunta como seria se não tivesse escolhido o caminho que está agora, o da psicanálise.

“Olhei” para ela (entre aspas, porque estávamos por chamada de vídeo) e falei que não sabia, mas que agora não dava mais para retornar de onde saímos, mesmo que não sigamos mais a psicanálise, essa escolha já nos deixou vestígios de algo.

Antes o que era uma ideia de sermos psicólogos, nos trouxe as incontáveis perguntas que existem ao se estudar psicanálise. Sobre a teoria, sobre a prática e o principal sobre nós mesmos.

São perguntas que estão por toda parte:

O porquê isso é assim?

Como cheguei aqui?

Por que fiz isso?

Por que pensei aquilo?

É uma sensação de labirinto com uma saída, que dá para outro labirinto e que talvez dê em mais uma saída… Ou várias saídas.

É um dizer daquilo que acha que sabe, mas que percebe não saber. É a curiosidade de chegar em algum lugar, mesmo que não chegue.

O caminho de onde saímos, que supostamente, desejamos voltar, mas que ficamos à sua volta, porque talvez não queremos realmente aquilo que tanto desejamos.